domingo, 19 de dezembro de 2010

Participante dos Belos Espetáculos da vida

Marketing Instintivo – Elementos de observação

O ato delicado e o filme perfeito



Você acorda e está diante do maior espetáculo da terra: a mulher no seu ritual de arrumação, o banho, o creme na perna levemente amparada sobre a poltrona, os cabides em forma das mesmas interrogações e dúvidas - com que roupa? - e aos poucos, peça a peça, me vejo diante de um dos maiores espetáculos da vida.
Em muitas ocasiões, finjo até que estou dormindo, só para flagrar a beleza sem interferir no acontecimento. Dessa forma, ela se apresenta mais naturalmente e oferece melhores ângulos. Cena a cena, meu filme preferido, cinema na cama antes de pedir o café pra nós dois.
Porque uma mulher se vestindo é infinitamente mais elegante do que uma mulher tirando a roupa. Por mais que seja fina, há sempre um descuido ao despir-se, além da pressa inimiga, claro, nos momentos do sexo selvagem.
Seja um Yves Saint Laurent, um garimpo de brechó ou um vestido do magazine mais próximo, não importa, o que vale é o ritual, a combinação de cores, os detalhes, o quadro a quadro que constrói o figurino. Lindo e lento strip-tease ao contrário.
E o momento da maquiagem? Passo mal ao espiar ao longe. Sim, nada de acreditar nessa historinha de "você já é bonita com o que Deus lhe deu!" Dorival Caymmi, saravá meu pai!, é uma beleza de homem, mas pinte esse rosto que eu gosto e que é só seu. Com todos aqueles lápis que lhe fazem uma criança brincar de colorir o desejo.
Agora ela anda pela casa, à procura do acessório perdido... Seus passos fazem música com os tacos, como é bom ouvir, excitado, aquele ritmo ainda embaixo dos lençóis.
Quando o destino é uma festa, o ritual não é menos nobre, mas ainda prefiro o preguiçoso espetáculo das manhãs - final das manhãs, digamos, porque madrugar ninguém merece.
E sempre rio baixinho do momento da dúvida na escolha do vestuário, quando você suspira, quando você solta o mesmo resmungo de todas as mulheres do mundo: "Não tenho roupa!". Pode ser uma madame de alta classe ou uma jovem atriz, que ainda trabalha de garçonete.
O importante é que você se veste e aquele filme, Cinema mudo, passa como sonho o resto do dia na minha cabeça.


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